Utopia...

São 8 e meia da manhã. O despertador esmurra me na face e obriga me a levantar contrariado - como sempre. Mas hoje é um dia diferente. Acordo feliz, trabalho feliz, passo o dia ansioso. Compro o jornal logo de manhãzinha, afinal, a Briosa regressa às competições europeias 36 anos depois. A cidade acorda esperançada, renascida. Por todo o lado se comenta o jogo de logo à noite. Quase nem consigo almoçar. Ao longo do dia a concentração no trabalho foi-se esvaindo por entre a imaginação de um golo, de uma enorme festa. O país pára. A Universidade ergue-se bem no topo orgulhosa e a cabra anuncia a todos a alegria contagiante da velha Briosa. Tudo se conjuga, as tradições, os modernismos, os novos, os velhos, os estudantes, os trabalhadores. Às 19 e 45 a Briosa recebe o Ferencvaros TC, 3º classificado do campeonato hungaro e antigo colosso do futebol europeu. Qual cortejo alegórico da Queima das Fitas, hoje a história reescreve-se numa bela aventura. O moderníssimo estádio Cidade de Coimbra enche como um ovo, bem à semelhança do velhinho calhabé - apenas difere o facto de não haver postes de electricidade para escalar e visionar o jogo em local priviligeado. Toca o fado de coimbra, a balada do 5º ano jurídico, relembram-se antigos heróis, exaltam-se novos símbolos, o ambiente é arrepiante. A Briosa é um estado de alma, comentam os jornalistas hungaros. Num festival de futebol ofensivo sustentado numa agressividade constante e enorme ambição a Académica esmaga os hungaros com um esclarecedor 3-0. Sem qualquer contestação. A cidade festeja noite dentro. Uma simbiose total entre protagonistas e simpatizantes vê o raiar do sol nascente...Entretanto acordo. E venho trabalhar, como sempre. E a Briosa continua sem ganhar nada, sem impressionar, sem cativar... Mas foi um sonho tão bonito..e já dizia o grande António Gedeão...o sonho comanda a vida...