quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Pelés, Platinis, Pelusa e Valdanos

Maradona será o próximo seleccionador argentino. Embora continue envolvido no jogo de uma forma mais directa e menos "interesseira" que Pelé e Platini, são poucos os que acreditam no sucesso desta nova incursão do génio - é precisamente por essa razão que considero a sua incursão menos "interesseira". Pelé e Platini sempre se souberam aproveitar da dimensão como actores principais do jogo. Nunca arriscaram, conhecem os seus limites e por isso são inteligentes. Ora, Maradona, embora não tenha sido escolhido pelo que fez como treinador, mas como jogador, não tem sido inteligente na gestão da sua carreira. Só que agora corre o risco (grande) de ser mal sucedido e considerado culpado em caso de insucesso, desventura a que todos os treinadores estão sujeitos. Mas a verdade é que arriscou, como outros não o fizeram, porque como patriota que é, jamais recusaria este convite. Quer continuar a ser aplaudido, não pelo que fez no passado mas pelo que faz no presente. Isso distingue-o de Pelés e Platinis e, por essa razão, admiramo-lo. Não quer parar de fintar, não aceita deixa de ser protagonista. Só que a sua genialidade, embora intemporal à memória, desvaneceu-se no momento em que pendurou as botas. A inteligência de Maradona com a bola nos pés era o seu instinto, as suas ingualáveis capacidades física e técnica. Nasceu para aquilo. Foi o melhor com a bola e mudou o jogo. Mas jogo e bola são conceitos diferentes e para vingar como treinador não chega ter sido o melhor do mundo como jogador. A fórmula para o sucesso de cada um é diferente. Por isso mesmo há grandes jogadores que fracassaram como treinadores, mas outros, que foram medíocres enquanto jogadores, como Mourinho e Ferguson, triunfam no banco. Bom treinador é o que pensa, Maradona, porque "pensa" mais com o coração do que com a cabeça, não é um grande treinador. Conhecer os meandros e as incidências do jogo não chega, é preciso pensá-lo. E apesar de todos os seus admiradores desejarem o sucesso d'el Pibe nesta aventura, todos desconfiam de tal epílogo. Como Jorge Valdano, que ao contrário do génio, com a bola nos pés nunca foi tão brilhante como com a caneta na mão. Valdano está como adepto do futebol como Maradona está como jogador: são os melhores de sempre. E por isso Valdano é o maior admirador do Maradona jogador, mas desaprova a sua recente nomeação. O futebol não é só o que se passa dentro de um campo - daí a razão da existência desta tertúlia -, razão pela qual admiro tanto o pé esquerdo de Maradona como a cabeça de Valdano. Não podendo discordar da opinião do "filósofo" sobre a nomeação, que considera Maradona inexperiente demais para o cargo, o que é certo é que o desejo de continuar a ser grande ainda lá está. Por pouco inteligente que seja, não deixa de confirmar qualidades admiráveis! P.S.: Aquando da notícia do sucessor de Basile quase todos os meios informativos falavam do desacordo de Valdano com tal decisão. Enquanto pesquisava as suas palavras na net, deparei-me com o seguinte relato por ele escrito acerca da famosa tarde de 1986. Está em inglês, mas é das coisas mais fantásticas que li. Por ser demasiado extenso, transcrevo uma pequena parte traduzida e deixo link: " o problema com que me deparava por jogar com o Diego, enquanto companheiro de equipa, era que me tornava um espectador e quando ele me passava a bola, demorava um momento até que me lembrasse que era como ele - um jogador. Talvez não como ele, mas ainda assim um jogador".http://www.guardian.co.uk/football/2006/jun/22/worldcup2006.sport21

5 comentários:

Mogrovejo disse...

Concordo em certa medida porque acredito no inacreditável e isso permite-me não tomar nada como adquirido, o que no caso do futebol - não sendo uma ciência - é paradigmático. A verdade é que a excepção confirma a regra - veja-se em sentido inverso o pobre Inter de Mourinho - e todos sabemos que a Selecção tem muito de coração, como aliás bem provou o cabeça de porco. Por todos estes imponderáveis vou acreditando que o Diego pode de novo erguer a taça. Faça o que fizer em nada beliscará o legado futebolístico que a sua imagem sempre carrega. Um abraço.

Dinis "Sandokan" disse...

Concordo consigo caro Mogrovejo. A imprevisibilidade é o dínamo do futebol. Pelo menos acredito num balneário forte e motivado porque não deve haver plantel com tanto orgulho e admiração pelo treinador. E depois é só fazerem o que sabem... O problema é se põe todos os que indicou como seus sucessores a jogar (Riquelme, Aimar, Ortega, Messi, D'Alessandro, Saviola, Kun Aguero, etc...). Sinceramente o que me desagrada mais é vê-lo no banco!

Mogrovejo disse...

Ao contrário do que é normal esperemos que o Valdano não esteja certo...Um abraço.

Mogrovejo disse...

E não nos esqueçamos do fracasso dos seleccionadores que o antecem..De Peckerman a Basile, não houve um que conseguisse olear a poderosa máquina argentina. Só Batista conseguiu juntar os craques todos a jogar bom futebol, solidário, nos jogos olímpicos. Vamos ver. Um abraço.

Mapuata disse...

Maradona foi de facto o melhor jogador que alguma vi actuar. Não sei se terá capacidade para comandar uma selecção, acredito que não.. Só esse país de enganadores se lembrava de tamanha estupidez.. Era o mesmo que agora Gilberto Madaíl designar Eusébio como novo seleccionador português!!