quarta-feira, 5 de novembro de 2008

(UM) BALANÇO

A primeira tarefa de um treinador, quando inicia um novo ciclo de trabalho, é situar-se: saber com o que conta, onde está, que terrenos pisa. O que torna o futebol atractivo é justamente o facto de não haver receitas para o sucesso. José Mourinho chegou a Itália e esqueceu-se logo disto. Fez duas contratações de que não precisava (Quaresma, que tem objectividade a menos para jogar no calcio, e Mancini, habituado à Serie A mas também a jogar em ataque rápido com uma ponta móvel - Totti - e que revela notórias dificuldades em jogar em ataque continuado com uma ponta fixa - Ibrahimovic), que tardam em afirmar-se. O terceiro "acquisto", Obinna, veio por acréscimo, e é o que melhor rendimento tem demonstrado. À excepção de Chivu (um polivalente de qualidade), a sua equipa tem dois centrais muito fracos (Cordoba e Burdisso) e um veterano (Materazzi, com 35 anos). O meio campo defensivo é débil, com Vieira a arrastar-se do alto dos seus 34 anos e um (excelente) Cambiasso que não chega para tantas encomendas. O pior Inter dos últimos 16 anos sofreu metade dos golos do Super-Inter de Mourinho no mesmo número de partidas. Saber os terrenos que pisamos passa não por falar italiano correctamente, mas em conhecer bem a Serie A, e as suas exigências. Os melhores defesas, e os avançados mais práticos jogam lá. Podem não ser os melhores, mas são os mais eficazes. Mourinho vem de um campeonato onde uma entrada impetuosa a meio-campo ou um balão da área defensiva para a terra de ninguém são aplaudidos como se fossem golos de bandeira. Mas Itália, meu caro, "è tutta un'altra storia". O amigo N´Tzunda pode vir com as fracas assistências (lembre-se, no entanto, que o calcio regista este ano um acréscimo de 9% nas assistências e a melhor média dos últimos 6 anos), o amigo Mogrovejo com a filosofia de ataque da Liga espanhola (e com razão), e todos os que não sabem de futebol com a espectacularidade da Premier League, onde um Wigan-Fulham é pior que um Vinha da Raínha-Moínhos. Em Itália joga-se a sério. Adeptos e jornalistas sabem muito, muito de futebol. Não é o campeonato mais bonito? Não, não é. Nem o mais espectacular? Com certeza que não. Mas é seguramente o mais duro, o mais exigente, o mais rigoroso. É onde, para ganhar, é preciso fazer mais. E o dito "Mou", para ganhar, vai ter que sacar uma receita nova. Onde ele está agora, eles conhecem as receitas todas do livro. Abraço.

2 comentários:

Mogrovejo disse...

Concordo com algumas das ideias aqui expostas mas não todas. Ninguém sabe mais que ninguém, é futebol, não uma ciência. Cultura táctica não tem correlativo directo com qualidade de jogo e a previsibilidade de jogo de grande parte das equipas italianas faz com que a maior parte dos jogos termine com poucos golos. Também eu aprecio a experiência e cultura tática dos italianos mas parece-me eróneo presumir que Mourinho não estudou o Calcio. Logo ele, rei dos pormenores tácticos. Mourinho se é verdade que pode aprender, também tem ensinado e muito, sobretudo pela emoção que coloca na frieza italiana e nesse aspecto Quaresma, a meu ver, cai como uma luva. Porque o erro para mim era se Mou fosse igual a Ranieri, mais um peixe no aquário, o segredo de Mou, para mim, prende-se com o estremecer da monotonia, o abanar dos costumes arrancando a normalidade ao jogo. Façamos novo balanço daqui a uns meses e logo se verá. Um abraço.

Karoglan disse...

X,1,1,1,X,2,1,1,1X,T. 1-2
BUUUUUUUUU!! PARA OXÔ Harbuti...
Aquele abraço!!